DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
Categoria: Notícias Direitos Humanos
Publicado em Sexta, 04 Outubro
2013
No Pará,
juíza que manteve menina de 15 anos em cela com 30 homens, sendo estuprada
durante 26 dias, é promovida para a Vara de Crimes contra a Criança e
Adolescente. Critério para promoção de Clarice Maria de Andrade foi
"merecimento"
A juíza
chegou a ser aposentada compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça, em
decisão unânime de abril de 2010. Recorreu da decisão, juntamente com
a Associação de Magistrados do Pará, e conseguiram que o ínclito STF
(Supremo Tribunal Federal), anulasse a decisão do CNJ, em agosto de 2012.
Segundo nota da AMEPA na ocasião, ela “demonstrou a mais completa entrega
a sua função de magistrada, em tudo dignificando a magistratura paraense”. Se
assim é para a Justiça, agora ela poderá cuidar ainda melhor das meninas e
adolescentes paraenses.(Tania Pacheco)
Por
Carlos Madeiro, do UOL em Maceió.
O TJ-PA
(Tribunal de Justiça do Pará) decidiu nomear para Vara de Crimes contra a
Criança e Adolescente de Belém a juíza Clarice Maria de Andrade. A
decisão foi publicada no Diário Oficial Eletrônico desta quinta-feira (3).
A
magistrada foi a responsável pela decisão de manter por 26 dias uma adolescente
presa em cela masculina com cerca de 30 homens, na delegacia de polícia de
Abaetetuba, no interior do Pará, em 2007.
A jovem
de 15 anos foi vítima de agressões e violência sexual no período e se tornou
uma referência de violação aos direitos humanos em presídios no país.
Andrade
chegou a ser aposentada compulsoriamente pelo CNJ (Conselho Nacional de
Justiça), em decisão unânime em abril de 2010. A Amepa (Associação de
Magistrados do Pará) e a juíza recorreram da decisão e conseguiram, em agosto
de 2012, no STF (Supremo Tribunal Federal), anular a decisão do CNJ. Em
seguida, ela foi nomeada para a 6ª Vara Penal de Ananindeua, na região
metropolitana de Belém.
OAB
questiona
A
nomeação foi criticada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Pará, que
vai tentar reverter a indicação para Vara de Crimes contra a Infância e
Adolescência.
Segundo a
presidente da comissão de Direitos Humanos da entidade, uma reunião com a
cúpula do TJ-PA já está marcada para a próxima segunda-feira (7).
“A gente
vai apurar o que aconteceu e entrar no diálogo com o TJ, pois ela é uma pessoa
simbólica de algo que foi marcante por uma grave violação dos direitos humanos.
Nós até entendemos que com a decisão do STF ela voltasse ao trabalho, mas
nomear ela para essa vara é uma expressão de que o TJ parece não se importar
com o que aconteceu”, disse.
Para
a Amepa, a juíza não foi responsável pelo caso, mas sim, “vítima da
falência do sistema prisional brasileiro, que ela mesma já havia denunciado e
requerido providências as autoridades competentes”.
“[Ela]
demonstrou a mais completa entrega a sua função de magistrada, em tudo
dignificando a magistratura paraense”, afirmou a a instituição, em nota de
apoio à magistrada, logo após decisão do CNJ.
Decisão colegiada
O TJ-PA
informou que a decisão foi tomada de forma colegiada, pelo pleno do órgão, e
explicou que a nomeação ocorreu porque a juíza se inscreveu na seleção e venceu
a disputa por estar habilitada para o cargo.
Ainda
segundo o TJ-PA, para a escolha do juiz da vara, os desembargadores avaliam
critérios definidos pelo CNJ, como presteza, agilidade e antiguidade –que
determinam uma promoção por merecimento.
O TJ-PA
afirmou que ela foi bem avaliada nos quesitos e que vem desempenhando um bom
trabalho na magistratura.
O UOL
tentou conseguir o contato da juíza Clarice Andrade, para que ela comentasse a
decisão, mas não conseguiu. O CNJ não se pronunciou sobre a decisão.
O caso
Na
decisão de sua aposentadoria compulsória, o CNJ alegou que a juíza foi
condenada por ter se omitido em relação à prisão da menor, que sofreu torturas
e abusos sexuais no período em que ficou presa irregularmente, em 2007.
A jovem
de 15 anos foi detida por tentativa de furto, crime classificado como
afiançável.
O CNJ
entendeu que a juíza conhecia a situação da prisão –já que havia visitado o
local três dias antes–, verificando a inexistência de separação entre homens e
mulheres e as péssimas condições de higiene.
O
conselheiro do processo, Felipe Locke Cavalcanti, disse ainda que a juíza nada
fez para que adolescente fosse retirada da cela. A juíza também foi acusada de
ter adulterado um ofício encaminhado à Corregedoria-Geral do Estado, que pedia
a transferência da adolescente, após ter sido oficiada pela delegacia de
polícia sobre o risco que a menor corria.
Em
entrevista ao portal de notícias da AMB (Associação de Magistrados do
Brasil), no último mês de junho, a juíza disse que foi vítima de uma
injustiça.
“Fui
afastada de uma forma violenta. Fui praticamente arrancada do cargo. Foi uma
coisa que mexeu com toda a família. Fiquei doente, enfrentei um câncer e meu
marido perdeu o emprego. Mas graças a Deus, temos um Deus poderoso e retomamos
nossa vida”, afirmou.
Segundo a
AMB –que apoiou o retorno da juíza às suas atividades–, qualquer violação aos
direitos no caso “foi de inteira responsabilidade da polícia, e nunca da juíza”
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