Astronadc Pereira, é policial militar, Psicologo e professor. Mais conhecido como Sargento Pereira.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O GRITO DOS EXCLUIDOS E APRESENTAÇÃO SIMBÓLICA, DANTESCA, E PERCEPTIVEL DAS ELITES CONTRA O POVO DO BRASIL.

Astronadc Pereira de Moraes

Estou feliz porque antes da minha velhice pude participar do Grito dos Excluídos. Estar policial militar e participar da marcha dos excluídos como cidadão, militante e ativista político foi uma experiência significativa.

Foi participar de um momento na transição de uma ditadura para a construção da democracia popular participativa. É ser, e estar na posição de um novo sujeito político. Um sujeito que promove transformação social. 

Alguns anos atrás era impensado e inimaginável um policial militar estar dentro dos movimentos sociais, seguindo lado a lado com o movimentos dos sem terras, dos jovens manifestantes, dos negros, das mulheres, do grupo LGBTs, dialogar e propor ações democráticas legitimas. 

O Grito dos Excluídos ocorrem em todo o Brasil, são manifestações populares geralmente organizados pelos movimentos sociais e tem a perspectiva de demonstrar à sociedade brasileira que existe uma parcela significante da sociedade que vive em absoluta miserabilidade. As manifestações denunciam os mecanismos que promovem a violência social, e aponta caminhos para a inclusão dos excluídos numa sociedade mais justa e solidária.

Geralmente o grito ocorre durante a semana da Pátria. O movimento tem sua origem durante a segunda semana social brasileira. Evento promovido pela Pastoral Social da Conferência Nacional dos Bispos – CNBB, realizada entre 1993 a 1994, como fruto dos debates e demandas sociais da época. O grito dos excluídos me faz fazer uma profunda e conveniente reflexão. Comemora-se, o que? 

Durante o desfile do sete de setembro vejo soldados armados, com fuzis na mão, com seus rostos cobertos de tinta. Enfileirados e compactados, em um só movimento em uma só cadência. Homens marcham, e, se assemelham a maquinas, “robôs”, em ritmos mecanicista. 
Na apresentação estar os militares das forças armadas, seus tanques de guerra e seu poderio bélico, suas bombas e sua obediência cega a uma doutrina militar. Depois desfilam as escolas, que também em marcha, imita e reforça os resquícios do militarismo, geralmente replicados em instituições importantes como a família, organizações e comunidades. 

A polícia judiciaria estadual apresenta acanhadamente seu desempenho, mas é a Polícia Militar Estadual que fica incumbida de fazer uma apresentação simbólica. A polícia Militar é o símbolo maior da repressão contra os pobres, contra as massas populares, contra os excluídos. 

As Policias Militares apresentam seus homens armados com fuzil, com cães prontos para atacar, com seu pelotão de choque pronto para usar o gás de pimenta, o cassetete, o choque elétrico, o ódio, e o preconceito subjetivado no profissional que ostenta a farda. Afinal no imaginário coletivo este profissional representa o Estado imperante, e assim ele se vê. E como tal, este militar defenderá o seu patrão.

Depois vem às forças especiais da Polícia com seu poderio letal demonstrando um exacerbado amor ao militarismo, muito longe da consciência política, social e humanista. Rostos pintados, coração desmedido e vibração. O problema é que esta imagem se repete a mais de um século, os próprios policiais são vítimas e se deixam envolver-se nesta paranoia de dominação e controle. 

São vítimas por que também são filhos de brasileiros, também são pais de filhos revolucionários, são vítimas por que são mau pagos, tem seus Direitos em quanto trabalhadores desrespeitados em toda ordem, tem seus Direitos Humanos violados, moram em ambientes inconvenientes quando não em favelas, trabalham excedentemente e não são remunerados por isso, não podem reivindicar seus direitos, se fizerem, são presos e colocados na justiça militar, um tribunal de exceção, sofrem constante assédio moral desde a formação policial até sua reforma. 

São vítimas por não ter a possibilidade de ascensão funcional. As praças por mais qualificados que estejam nunca comandaram sua polícia, um oficial por mais despreparado que seja poderá chegar ao comando maior da sua polícia, basta prestar serviço a classe política dominante. O oficialato é cliente direto desta elite burguesa.

São vítimas por não ter acesso a condições médicas adequadas, não possuem direitos trabalhistas. Tratados pelos governos, e pela própria sociedade como um mal necessário. São vítimas de sua própria incapacidade de romper com a cultura do medo. São homens livres que se deixam escravizar

Há uma crise de identidade, ora são militares obrigados a cumprirem ordens a cega, ora são policiais que precisam cumprir a lei e proteger as pessoas. Uma dualidade, onde quem geralmente vence é a cultura do medo, do controle e da intolerância, é o poder político e econômico.

O que é apresentação simbólica dantesca ao qual me refiro? É a mensagem sublimar intencional que o estado faz ao promover o sete de setembro, ou seja, o evento serve bem a elite brasileira. O desfile de sete de setembro subsidia a elite, mandando uma mensagem ao povo brasileiro, aos excluídos, ou a qualquer coletivo ou pessoa que se levante contra o estado, de que o estado imperante tem sua organizada militar, estrutura e força para conter e destruir qualquer movimento de rebeldia, que se levante contra esta elite.
De forma muito tola pessoas batem palmas, inocentemente não imaginam, que aquela força policial e poderio bélico é justamente para manter no poder uma elite burguesa. O estado não deveria promover classe de miseráveis, de excluídos, de famintos, não deveria promover violência e corrupção. Em nome de que tudo isso?

Qual é o estado imperante que me refiro? Refiro-me a uma elite burguesa, reacionária, utilitarista, fundamentalista, sectária, revanchista, militarista, fisiologista, hipócrita, insensível, pragmática, corrupta e corporativista. Esta mesma elite tem como fundamento a manutenção deste estado de coisa, e sob seu controle as mentes e corações, de forma hipócrita se abastece na má política e tem em sua cabeceira o Capitalismo. O capitalismo que promove violência e exclusão social.

Convém salientar que os políticos, a elite burguesa e as estruturas do Estado Brasileiro desprezam as vozes que ecoam das ruas, dos movimentos populares, das manifestações sociais, dos guetos, da comunidade, do povo brasileiro. 

As manifestações do mês de junho apontam para uma inquietação na sociedade brasileira, no entanto a elite brasileira resiste e mantém estruturas falidas na política, na administração pública e na gestão social. O povo brasileiro deseja e são sujeitos de Direitos, desejam serem reconhecidos como sujeitos políticos. A participação da sociedade, dos movimentos sociais e de inúmeros segmentos sociais aponta para mudanças estruturantes na política do Brasil.

Foi durante as manifestações do mês de junho que a elite burguesa deixou cair sua mascara mais colorida, a violência, a intolerância e o desrespeito pelo nosso povo. Mandatários do poder tentaram desqualificar os movimentos sociais, e ordenaram que a polícia avançasse contra jovens, estudantes, mulheres, trabalhadores, artistas, jornalistas, estrangeiros, militantes e crianças. 

Um país que se titula democraticamente consolidado tem uma polícia violadora de Direitos. A Polícia Militar de vários estados agrediram violentamente os manifestantes, demonstrando assim que não temos uma polícia preparada nem tão pouca uma democracia consolidada. 

Uma polícia clientelista, militarizada e que acredita fielmente que é um estado aparte, não precisando dar satisfação a ninguém nem mesmo a lei. A situação é tão avassaladora que não houve por parte dos instrumentos legítimos do estado brasileiro uma reação contra a ação da polícia em reprimir o povo que estava na rua. E por que tudo isso? 

Me preocupa muito o avanço desmedido e reacionário de uma direita burguesa reacionária e que assume de forma progressiva estruturas importantes que historicamente foram construídas para consolidar a democracia do Brasil e preservar os Direitos Humanos.

A Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que se cala frente à violência da Polícia em todo Brasil, uma polícia que avança violentamente contra estudantes, trabalhadores e trabalhadoras, uma polícia que sobe nas favelas com o objetivo de matar e deixar corpos no chão, uma polícia que segundo a própria mídia tem produzido grupos de extermínio, corrupção policial, associação com o crime organizado.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, onde um reacionário, e que não representa os Direitos Humanos, assumiu a comissão debochando do povo brasileiro propondo e promovendo a desqualificação do ser humano. 

Onde estar as Corregedorias, as Ouvidorias, a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil? Onde estão as forças, e os mecanismos legítimos da democracia, onde estar o Ministério Público? 

Não podemos mais aceitar este estado de coisa. O povo é a polícia e a polícia é o povo. Cabe ao povo promover mudanças significativas, buscar a cidadania e a consolidação da democracia popular representativa. 

Uma polícia preconceituosa, com uma formação militarizada. Uma polícia que serve a uma elite que deseje e tenta abreviar a sua volta ao comando do Palácio do Planalto a todo custo. 

Uma elite a serviço das grandes corporações nacionais e internacionais, uma polícia que nos estados da federação se associam cada vês mais a uma imprensa corrupta e nefasta. Uma mídia que prega abertamente a cultura da violência. Mídia esta atrelada ao crime organizado, e a maus políticos. 

Não há consolidação da democracia no Brasil. O Estado Democrático de Direitos não estar consolidado no Brasil. O Estado Brasileiro não respeita os Direitos Humanos. Quem controla as estruturas importantes do Brasil, ainda é um pequeno número de pessoas, que representa esta ditadura política praticada pela elite. 

No capital pensado do Homem Sapiens, existem duas palavras que simbolicamente representa a capacidade da humanidade em avançar e ou manter-se em sua posição tradicional - Controle e mudança. Esta elite tenta se manter no controle da vida política e do estado brasileiro. 

Mesmo o Brasil tendo nos últimos 12 anos um governo de esquerda, Lula e Dilma, as estruturas do estado ainda permanecem com o velho e tradicional modelo, onde o que impera é uma alternância de poder dentro de um único ciclo. Não é a toa que esta elite tenta de todas as formas impedir a reforma política no Brasil.

A direita revanchista constituída em boa parte por esta citada elite burguesa age e avança contra a esquerda que tenta promover grandes transformações no Brasil. Esta elite tenta a todo custo desqualificar o governo Lula e o governo de Dilma. Não é acaso que há um sistemático ataque ao Partido dos Trabalhadores, ataque ao presidente Lula e agora a presidenta Dilma, bem como, inúmeros companheiros sofrem ataques que afinal busca apenas desqualificar um governo de esquerda.

Emerge de dentro dos corações dos brasileiros um forte sentimento de mudança. Mudança significativa, conveniente frente a contemporaneidade das coisas e da historia. É neste Capital Pensado que avança o desejo de se mudar a condição de miséria do nosso povo excluído. 

É nesta perspectiva que as massas progressistas se somam e exigem mudanças, somos nós: adolescentes, jovens, trabalhadores e trabalhadoras, soldados, policiais entidades, segmentos sociais, toda sociedade. 

Precisamos de uma forte mobilização social e política, para quebramos as correntes atados nos braços de um gigante chamado Brasil. Precisamos fazer a mobilização, pressionar as estruturas políticas para fazermos as reformas necessárias no estado brasileiro.

A elite burguesa tem sua metodologia, é a cultura do medo. O medo que impede que companheiros e companheiras avancem e promova mudanças. E, é nesta perspectiva que cabe bem o desfile de sete de setembro, é para colocar medo nas pessoas, um medo sublimar, indescritível, impensado, imperceptível, mas eloquente, contagioso e emocionante.  

É bastante difícil libertar os tolos, os violentos, e os que não dialogam por que eles se alimentam das próprias correntes que os aprisionam e que eles tanto veneram, mas, não se dão conta que são vítimas deste próprio sistema violador.

Eles conseguem implantar nas mentes e nos corações de algumas pessoas o desejo de negar a Democracia, a vida, a liberdade, negar as instituições e segmentos que representa a Democracia do Brasil, chegam a querer negar os partidos políticos. Não é possível ter democracia se negarmos a existência dos partidos políticos se negarmos os Direitos Humanos. Algumas pessoas propagam o ódio e a violência contra as instâncias representativas da Democracia, eu estou muito preocupado com esta situação, é perigoso negar a política. 

Aos companheiros e Companheiras lhes digo que nossa metodologia é simples, devemos apontar as insuficiências do estado imperante, e formar novos quadros. Portanto é na consciência política, na militância, e  na formação política que promoveremos mudanças significativas nas consciências. Se não nós, quem? E, quando?

Precisamos consolidar o Estado Democrático de Direito e a Democracia popular. Como pode haver democracia com o militarismo ocupando as estruturas do Estado? Se as instituições não foram redemocratizadas, se a educação no Brasil ainda permanece sedimentada numa cultura com resquícios militarista, tudo isso é incompatível com uma Democracia ampla e popular.

Quando o Brasil fizer as reformas necessárias ao bem estar do povo brasileiro, não teremos mais desfile militarizado no sete de setembro. Por que, ai, sim, comemoraremos a Democracia, e a liberdade do nosso Brasil sem a presença de soldados para a guerra, mas com forte presença popular para o civismo e a cidadania.

Tende a crescer em todo o Brasil os movimentos para se extinguir os desfiles militares do dia de sete de setembro, alguns mais moderados e outros mais radicais. O fato é que queremos respirar Democracia e paz social. Este é um processo irreversível.

A minha felicidade é por ter em mim despertado a consciência de que preciso promover novas consciências, e como tal, promover transformações.


ASTRONADC PEREIRA DE MORAES.
Policial Militar. Sargento da PM/PB
Psicólogo. Esp. Criminologia e Psicologia Criminal.
Conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos da PB
Militante e Ativista político.
astronado@hotmail.com


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